"Eu não apanhei. Mas ele me desmontou."

Anônima, 42 anos

Eu nunca levei um tapa. E por muito tempo, achei que isso era suficiente pra dizer que meu relacionamento era “ok”. Afinal, ele não me batia, né? Era só... um pouco bravo.

Tudo que eu fazia ele criticava. Dizia que eu não tinha “visão de mundo”, que meus gostos eram de adolescente. Se eu falava de algo que eu gostava, ele dava risada.

Aos poucos, fui deixando de falar. Eu me pegava ensaiando o que ia dizer, apagando mensagens antes de mandar, pensando três vezes se o que eu tava fazendo era “inteligente o suficiente”.

Ele não gritava, não quebrava nada. Só olhava. Aqueles olhares que te fazem sentir como se você tivesse feito papel de idiota o tempo todo.

Teve um dia que eu chorei porque perdi um cliente importante no meu trabalho e ele disse: “Quer que eu finja que isso é grave? Cresce.”

Quando ele terminou, disse que eu era “sensível demais”. E eu ainda pedi desculpa por não ser mais leve pra ele.

Faz dois anos que acabou. E ainda hoje, às vezes, eu fico em silêncio numa roda de conversa por medo de parecer burra.

Mas aos poucos, tô voltando. A ler. A falar. A pensar em voz alta. E isso, pra mim, tem sido uma forma de reexistir.

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“ Assédio sexual com confusão emocional — sem justiça ainda, mas com consciência”